Por dentro, sou casca de ferida, quase cicatrizada, uma lágrima fingindo
ser cisco no olho, uma sessão de terapia onde foi dito apenas a metade, um medo
não publicado.
Por fora, uma leveza de palavras, embora por dentro, um furacão em
erupção, quase sem margens com folga, para não entornar. Por fora, uma coisa
que desejo fortemente e consigo deixar fluir de um jeito suave, ah, mas por
dentro, vou submergindo sem dó ou piedade, sem tempo para traduzir os desejos
incontidos, subversivos e doloridos.
Por fora o resgate de ingenuidade que se repete todas as manhãs, para
acreditar que a vida pode ser melhor. Por dentro, tralhas quase sem espaço.
Anseios e planos encaixotados sem destinatários.
Por fora, coração. Por dentro, razão. Por fora, alegria. Por dentro,
nostalgia.
Por fora, a certeza. Por dentro, o acaso.
Por fora o argumento como ladainha diária. Por dentro a pergunta que não
encontra a resposta e convive carrancuda com a dúvida
Por fora, falo de liberdade. Por dentro, procuro um caminho que
contrarie as incertezas. Por fora uma beldade. Uma entusiasta do amor fácil,
rápido e indolor, uma saudade sem devolução que virou poesia.
Por fora, esperança. Por dentro, zoeira que a vida faz e não trata de
desfazer.
Por fora, sonoridade, música. E por dentro também.
Por fora um olhar absurdamente grande para os vazios. Por dentro uma
alma escrita com verdades incômodas que vez ou outra deseja ser transformada em
liberdade.
Ita Portugal
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Obrigada por participar. Luz &Paz!!!
Beijos fraternos!!